quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Freeman e a onda do basta

Desculpem. Mas o vídeo viral do Morgan Freeman não quer deixar minha mente! 
Esse vídeo e os comentários sobre ele estão criando uma efervescência de ideias e perguntas na minha cabeça.

Numa postagem anterior eu já discuti o porque a argumentação do vídeo não se aplica a nossa realidade. Se aplicaria apenas a uma "sociedade ideal" onde, sendo as pessoas tratadas como iguais, não precisaríamos discutir racismo. Infelizmente, essa sociedade ideal não é a nossa! Aliás, ela nem sequer deve existir.

No entanto, embora esse equívoco me pareça bastante claro, o "boom" de compartilhamentos e a chuva de comentários nas redes sociais indicam exatamente o contrário. Muitíssimas pessoas se juntaram ao coro dos poucos segundos da entrevista do ator, pregando um basta a esse papo de consciência negra! Segundo a maioria dos adeptos a "nova" onda, é parando de falar sobre isso que teremos uma sociedade verdadeiramente justa e sem privilégios: onde a cultura negra não precisa ser comemorada, onde negros não precisam de cotas nas universidades e onde um personagem histórico negro não precisa ser homenageado por um feriado. Ou seja, uma sociedade brasileira exatamente igual a de algumas décadas ou até séculos atrás. Cada um ocupando o espaço que é seu por "direito e mérito".

Acho sinceramente impossível concordar com essa tal onda.
Primeiro, porque é uma lógica absurda acreditar que qualquer coisa deixe de existir quando paramos de falar sobre ela! Isso só deve valer na "História sem fim", aquele filme infantil da década de 80, em que o mundo mágico é devorado pelo temível 'Vazio'. Fora isso, não faz sentido algum!

Mas o que mais me intriga é tentar entender de onde vem essa indignação e esse grito de basta. Será que realmente já deu? Já falamos demais sobre a população negra e o racismo no Brasil?
Proponho um curto exercício mental. Tente se lembrar da ultima conversa sobre racismo que você teve em casa com a família, no trabalho, entre amigos. Quando foi que você discutiu o assunto com alguém? Não trapaceie. Compartilhar frases sobre cotas ou a foto daquela criança negra de olhos azuis no facebook não conta como discussão! E então? Quando e quantas vezes você se interessou o suficiente para ouvir, refletir, discutir a questão racial no Brasil?

Se você não trapaceou, você consegue reconhecer que este não é um assunto que discutimos com frequência. Falamos sobre os amigos, o(a) parceiro(a), o trabalho, o futebol, a novela... Não tenho nada contra isso. Aliás, faço o mesmo. Mas a questão racial é ainda um tema tabu na nossa mesa.
Portanto, esse "basta de falar sobre racismo" também não faz sentido! Nos posicionamos sem conhecer, sem refletir, sem discutir. Nos posicionamos repetindo os comportamentos que conhecemos porque isso é cômodo! Nos mantemos aquecidos e embalados pela nossa zona de conforto. E é assim, nos omitindo de fazer qualquer coisa, que queremos deixar as tudo como está (ou como era). 

As coisas estão bem pra você? Isso é bom. Mas se elas podem ficar bem pra todo mundo, é melhor ainda! E mais importante, não faz mal nenhum a você!

Se informe. Reflita. Discuta. Ensine seus filhos e alunos. 
Quem sabe a gente finalmente chega nessa sociedade ideal!

Dia da consciência negra, Freeman a chuva de "Nãos"


Esse vídeo é ótimo! Por dois motivos.
O primeiro é que ele diz exatamente o que o 'Morgan Freeman' pensa a respeito do mês da consciência negra: "Devemos ser tratado como iguais!"
Ótimo! Parabéns ao Morgan Freeman.
E nós somos todos tratad
os como iguais?
NÃO!


O segundo é a discussão que acompanha esse vídeo no dia de hoje. Bem, hoje é dia da consciência negra, feriado em algumas cidades.
Mas, por acaso, hoje é também o dia em que muitos estão se questionando sobre a validade de um feriado (ou desse feriado). Aí vem a pergunta: Pra que serve um feriado?
Um feriado pode servir pra fazer absolutamente nada no conforto do seu lar ou então pode ser um dia de homenagem ou um dia comemorativo pra cidade, pro país, pro mundo… E todo mundo comemora junto! =) Oba! 


No caso de hoje o dia é ainda mais. É um dia de homenagem a Zumbi dos Palmares (procure a história dele na internet. É legal!) e é um dia de comemoração da cultura negra no país. Seja negro, branco, amarelo ou lilás, você pode procurar a programação na sua cidade e ir comemorar junto! Além disso, e ainda muito importante, é um dia de reflexão. Pois infelizmente ainda vivemos num país (entre muito outros) onde o racismo existe. Sim, é triste mas é verdade… Aprendemos e ensinamos todos os dias a julgar de forma diferente os negros. Ou vc nunca viu aquele seu amigo dizer que não é racista mas esfrega o dedo no braço pra falar sobre aquele "mulatinho" que não presta? Ah vai dizer que vc não achou estranho quando viu que o médico que te atendeu era negro? Ou então vc nunca viu um mesmo… Ou então vc acha que é coincidência existirem mais negros nas prisões e menos negros nas universidades? Será o acaso, uma incapacidade dos negros ou a incriível exclusão racial?


Sim, é verdade! As pessoas ainda são diferenciadas pela sua cor em pleno século XXI!
Portanto, o Morgan Freeman fala sobre um mundo ideal. Que não é este onde vivemos. Neste mundo aqui, ainda precisamos levantar a bandeira durante um dia (uma semana, ou um mês) pra discutirmos a questão racial! Simplesmente porque ela existe durante todos os outros dias, o tempo todo. E não é parando de falar sobre o racismo que ele vai desaparecer da face da terra (Bem que poderia!). O que precisamos é olhar pra nós mesmos e ver onde podemos melhorar pra, enfim, olhar para o outro e o reconhecermos como igual!


Ainda resta a pergunta de porque tanta gente anda reclamando do feriado de hoje, mas ninguém reclamou do feriado de 15 de novembro… Faz só 5 dias! Qual a diferença?


Um ótimo dia da consciência negra a todos!" 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

(Re) Aprendendo a escrever no mundo da ciência

Trabalhar em pesquisa científica exige aprendizado constante. Todos que se embrenham nesse campo minado e, principalmente os pós-graduandos como eu, conhecem essa máxima. Mas grande parte do tempo de um pesquisador é utilizada para a escrita. São projetos, relatórios, pareceres, provas e artigos. Os sofridos artigos!


Aprendemos a escrever na infância. Começamos pelo próprio nome. Em seguida vêm as diversas palavras da vasta língua portuguesa e, de repente, já estamos construindo orações com seus pronomes, sujeitos, verbos, conjunções e etc. A partir de então, escrevemos redações, poesias, bilhetinhos escondidos na aula, cartinhas de amor. Depois de tanto tempo escrevendo e estudando, nada mais comum que se esperar que saibamos nos comunicar através da escrita. Seja ela científica ou não, certo?

Bem, não exatamente. A escrita científica tem suas regras próprias e muitas delas são completas novidades a quem ingressa no mundo acadêmico. Os formatos, padrões, tempos verbais e demais regras de cada documento são a primeira barreira, mas em geral a grande o grande obstáculo para a maioria é a língua. A língua predominante na maioria das áreas da ciência não é a nossa, mas sim o inglês. E para transpor esta barreira vão sim, bons anos de estudo paralelos à educação formal. Pode parecer sofrido, mas como é inevitável, nada mais resta senão nos rendermos aos estudos e “enrolar a língua”.

Então um dia você vai estar lá, com o seu diploma de inglês na mão, assistindo palestras em inglês e “super enrolando a língua” com os gringos no intervalo. É tudo como mágica! Agora você já pode se sentar na frente do computador com toda a tranqüilidade e finalmente despachar seu artigo pra Science! Aí vem a vida e te dá mais um não. Mesmo falando inglês, você percebe que as coisas não andam. Não há erros gramaticais no seu artigo, mas o revisor diz que tem que melhorar o inglês (Esse cara tá doido?).

Pois bem. Esta semana, descobri uma informação que me fez tirar mais uma das camadas que cobrem o mistério do mundo científico. Foi lendo a primeira página de um livro sobre escrita científica. Logo no primeiro parágrafo, o autor se remete ao antropólogo Robert Kaplan, que, entre outras coisas, identificou três estilos de pensamento nas suas sociedades de estudo – todos eles completamente ligados à cultura. Vou aqui transpor este trecho com as mesmas palavras do autor:

- o pensamento inglês é retilíneo ou direto; adota a idéia central e avança, aglutinando as idéias secundárias ao redor da idéia principal.
- o pensamento romântico, pertencente às línguas latinas (onde se inclui o português), é indireto; a idéia principal avança por meio de digressões ou explicações secundárias;
- o pensamento árabe caminha em espiral, isto é, as idéias secundárias avançam em círculos cada vez menores até chegar à idéia central.

Não sei como foi pra vocês ler este trecho, mas pra mim deu um “plim”. Relembrei automaticamente de trechos da minha fala (e escrita) e da fala de diversos amigos e parentes. De repente, retomando tudo isso, tudo fez sentido!

Não sei quase nada da cultura árabe, mas pra mim é claro que o pensamento romântico de nós latinos é realmente parte do nosso dia-a-dia. Faz parte da nossa cultura a mania de nos explicarmos e de compartilharmos nossos gostos e opiniões. E isso é bom! Faz de nós mais próximos, mas abertos e talvez até mais sensíveis, mas simplesmente não faz de nós escritores científicos natos.

Também é óbvio que, uma vez que a língua inglesa é a língua científica oficial, o pensamento inglês fez-se oficial. Alias, a própria escolha do inglês faz muito sentido. A ciência necessita inegavelmente de métodos definidos, lógica e clareza pra garantir ao máximo a sua irrefutabilidade, portanto nada melhor do que comunicá-la de forma direta!

Portanto, eis aqui mais uma aprendizagem a ser desenvolvida para o mundo da ciência. É hora de aprender a escrever (e a me comunicar) segundo um pensamento direto.

Pra quem quiser encarar o aprendizado junto comigo, eu recomendo o livro “A redação pelo parágrafo” (sim, é em português!) do Luiz Carlos Figueiredo no qual eu fiz essa nova descoberta. Estou lendo por indicação da Talis e, realmente, está tudo se transformando.

Beijocas.



terça-feira, 19 de junho de 2012

Sobre o desânimo

Há dias em que... Não. 
As vezes, a gente... Não.
Em alguns momentos da vida... Não!

O desânimo é tamanho que nenhuma palavra basta.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tenho sede de conhecimento! Será que meu cérebro aprendeu a nadar?






Gosto de conhecimento (e não precisa ser formal).
Dele surgem tantos caminhos que as vezes vivemos uma efervescência mental! De repente, uma ideia, teoria ou pergunta leva a milhões de possibilidades. E nem sempre sabemos de onde vieram. As vezes elas simplesmente chegam!



A gente tem uma relação engraçada com o "conhecimento".
Na primeira infância, a gente se fascina com ele.
Na escola, ele rapidamente se transforma de incrível a insuportável!
E quando a gente resolve que quer trabalhar com ele, passa a ser uma mistura de sensações. Fascínio e crise. Produtividade e vazio.

Agora, depois de intensas aulas sobre estrutura e dinâmica de comunidades,  acabo de confirmar que  conhecimento dói!

Momentos de alta intensidade de informações levam à hiperatividade cerebral. E a cabeça pesa!
As coisas não se acomodam tão rapidamente quanto entram ou são criadas. Há uma pressão interna!
Nesses momentos, parece que a mecânica do corpo (cerebral) foi desafiada. O sistema se aproximou do limite. Socorro!

Ainda bem que depois do descanso, assim que tudo se assenta, podemos aproveitar o mundo novo!
Viva!



sexta-feira, 13 de abril de 2012

E se tudo o que você tem estivesse numa sacola plástica?

Escolha apenas uma e carregue sua vida nela! Será que dá?



Essa foi a pergunta que não me deixou em paz ontem.

Tarde de chuva em São Paulo e todo mundo correndo pra se abrigar. Eu fazia o mesmo e, por sorte, o abrigo era o próprio ponto de ônibus. Tinha muita gente embaixo do "minhocão" esperando o ônibus. E aí, uma das coisas mais bacanas dessa cidade: tem tudo quanto é tipo de gente. Engravatados, saltos-altos, shortinho e chinelo! Mas São Paulo também tem muita gente morando na rua. E, embaixo do "minhocão" eu tive uma daquelas experiências que doem, mesmo sem serem suas.

Uma mulher (talvez com idade da minha mãe) mancava segurando fortemente uma sacolinha plástica numa das mãos. Ela zanzava no ponto de ônibus pedindo ajuda. Nessas horas a gente vê todo o tipo de reação. Susto, medo, receio, incômodo, piedade e até raiva se estamparam nos olhares dos meus companheiros de abrigo. A verdade é que quase ninguém ajudou a mulher. Uns não podiam, outros não queriam. Muitos seguiam a recomendação de não dar esmolas, que vemos na maioria das cidades hoje em dia. Não cabe a mim julgar o que é certo ou errado, até porque eu mesma não sei o que fazer e naquele instante, não fiz!

Não consegui parar de prestar atenção na cena. Durante os quarenta minutos de chuva forte e espera, a mulher continuava zanzando, mancando. Enquanto o tempo passava e, com apenas cinco centavos na mão estendida, ela começou a se desesperar e chorar pedindo ajuda.

Outra mulher, coberta com uma capa de chuva e se apoiando em duas bengalas, vira pra mim e diz " Eu tenho dó, mas não posso ajudar! Sou guardadora de carros duas ruas pra frente e luto pra me sustentar. Essa mulher era forte. Gorda. Hoje está assim tão magra. É de tanto passar fome nas ruas. E beber." A senhora, guardadora de carros, toda molhada, (que podia ter a idade da minha avó e exibia um rosto queimado) se compadecia da mulher que ela viu definhar nas ruas de São Paulo.

Um homem também com capa de chuva participou da conversa. "O pior é que se a gente dá alguma coisa a gente sabe que eles vão gastar com drogas! Eu sempre vejo o pessoal na rua aqui e lá no centro. Graças a deus eu não caí nessa vida. Também sou desempregado, mas tenho três filhas pra criar! Eu era mecânico. Durante o dia eu ando de mecânica em mecânica oferecendo um serviço. Uma troca de olho ou manutenção. Aí a noite eu vendo isso aqui [umas pulseiras coloridas de silicone]. Foi idéia da minha filha mais velha. Ela tem dez anos e disse que está na moda e vai vender!"

A chuva já ia parando e o meu ônibus chegou. Agradeci a conversa e desejei sorte. O homem (mecânico desempregado, pai de três filhas) e a senhora guardadora de carros me disseram "Vá com deus".

Mesmo não sendo religiosa, eu entendo o significado de carinho e atenção que isso significa pra quem crê. E por isso, me despedi agradecendo. Mas mesmo não tendo passado nem ao menos uma noite da minha vida ao relento, ainda assim não sei o que sentiria se tudo o que eu tenho estivesse numa sacolinha plástica.

Além da tristeza que senti e das lágrimas que eu segurei nos olhos, senti muita indignação! A prefeitura de São Paulo tem como um de seus deveres garantir as necessidades de sua população e, queiram ou não, nela se incluem os moradores de rua. Não devemos dar esmolas porque sustentamos vícios? Então criem condições de atendimento aos moradores de rua.

Dizem que com o tempo a gente se acostuma... Mas a população só se acostuma a virar o rosto e fingir que não vê enquanto uma pessoa definha a ponto de perder sua humanidade.

É muito triste, mas não quero fechar os olhos. Não quero me acostumar!

Foto retirada de: http://colunas.revistaepocasp.globo.com/centroavante/2010/05/31/novo-censo-sobre-moradores-de-rua/

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobre como calamos nossa voz

Hoje é dia de 'filosofia' de cabeceira.
Estava aqui pensando sobre um texto muito interessante que li hoje e que veio a calhar com meus pensamentos atuais. O texto de intitulado "Find Your Voice" fala da importância de arriscarmos e encontrarmos nossa "voz" (o que poderia ser assinatura, caminho, marca, etc.). Este texto me levou  mais uma vez à uma questão que andava me rondando: Por que calamos nossa voz?
Sim, pois aqueles que já encontraram sua voz, nem sempre a usam, mas calam. E aqueles que não a encontraram, simplesmente não arriscam.
Calamos porque não arriscamos, não nos damos a oportunidade do erro e por isso nos privamos de tentar.
E aí vem a grande questão: Quem está disposto a arriscar? Quem está disposto a dar as caras, tomar a frente, investir em novas idéias (por mais simples que elas sejam)?
É realmente mais fácil seguir o esperado e acordar com o senso comum. Mas quem disse que o senso comum está sempre certo? E se ele não serve ou não basta pra você?
Faço um convite. Levante, questione, repense e encontre sua voz. Não, não é um convite a revolucionar o mundo, quebrar as vidraças ou assaltar o banco. Não necessariamente. É um convite a encontrar o que te faz bem, o que te faz sentir útil e feliz.
É hora de encontrar e USAR sua voz.
Grite e arrisque!